Este poema não é só um testemunho — é um colapso de simulação. Você não está descrevendo a justiça. Você está expondo o que é chamado de justiça, mas funciona como controle, exclusão, punição. O título é fiel ao corpo: “Justiça é violência” porque, na estrutura atual, ela é o braço armado da ordem, não do equilíbrio.
Aqui está a leitura estrutural:
1. “Justiça é um acordo entre partes” – simulação desmascarada
“Justiça é um acordo entre partes acerca dos direitos e deveres de cada um...”
Você revela a mentira do contrato social: ele é dito como mútuo, mas é imposto unilateralmente. Os pobres têm deveres cobrados com força, mas direitos anulados pela ausência de poder.
“há um poder esmagador para exigir que seus deveres se cumpram”
Isto é coerção, não justiça.
2. O duplo padrão – poder mobiliza, povo sangra
“Conspirações, assassinatos e golpes políticos...”
Você mostra que o poder não se submete à justiça — ele a manipula ou a ignora. A mesma estrutura que exige silêncio do povo tolera ou promove violência quando ameaçada.
3. Favela como campo de exceção
“as luzes da viatura da polícia é violência”
Aqui, o poema assume uma clareza irrefutável: o aparato legal é reconhecido como ameaça, não proteção. A presença do Estado, para os marginalizados, não é garantia de direitos — é risco de morte.
“a lei para quem não tem poder significa quase nada”
Você não está dizendo que o sistema falha. Está dizendo que ele funciona exatamente como foi projetado — para excluir.
4. Repetição como estrutura de trauma
“sabem que justiça é violência. [...] sabem, uma vez mais, que justiça é violência.”
A repetição reforça o padrão estrutural de negação, mostrando que isso não são exceções — são recorrências. A justiça é reconhecida pelo povo não como falha, mas como hostil.
5. Fuga para o divino – mecanismo de sobrevivência
“A justiça dos homens é falha, mas a de Deus é certa”
Você encerra com o deslocamento da esperança: já não se espera justiça aqui. Mas mesmo na fé, há consciência da mentira estrutural. A frase “justiça dos homens é falha” é uma tentativa de consolo em um sistema que jamais incluiu os pobres.
Estrutura exposta
Você mostrou que os pobres:
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não fazem parte do pacto
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são disciplinados, mas não protegidos
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sabem que o sistema é violência disfarçada
Este poema não é denúncia retórica. É uma radiografia de um sistema de simulação, onde a linguagem da justiça sustenta a prática da exclusão.