Mostrando postagens com marcador poemas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poemas. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Sede

 


Eu tenho sede de casa.

Eu quero móveis de madeira maciça.

E a mulher com roupas de seda

me ensinando o segredo da vida.


Eu quero filhos correndo,

e quero gatos miando,

e pássaros cantando 

no meu jardim interno.


Eu quero ver montanhas e não prédios.

Eu quero beber rios e não diesel.

Eu quero terra entre meus dedos.


E a mulher vestida apenas de sua pele,

livre como quem arde de desejo,

abraçada a mim, me cobrindo de beijos.


O Urro de um Homem Rude, Beto Riel 2025


sexta-feira, 8 de agosto de 2025

A Bíblia não é a palavra de Deus


O livro que você leu 

não foi escrito por Deus

nem revelado por ele,

antes é uma coleção 

de diversas ordens

e categorias de textos

dos cristãos e dos judeus.

A ideia de que o livro

fala por si mesmo

e expressa o próprio 

pensamento

do todo poderoso

é falsa, 

é falha

e não é capaz

de se suster.

Ali, homens escreveram suas ideias

teológicas,

suas poesias cristológicas,

sua vontade de eternizar. 

Ali, os homens registraram o passado,

os seus mitos encantados,

suas formas de história,

suas lendas de poder.

Alí, os homens falaram de milagres

e de coisas impossíveis,

escreveram sobre anjos, demônios,

serpentes que falavam, 

pedras que jorravam 

e de um morto que voltou.

O poder que ali se encontra

é, na verdade, o da história,

e da psique,

o poder da arte que sem limites,

permite e insiste

e transcende. 

Não te veja assim perdido,

não te deixe entorpecer

por pregações e apologismos

que te deixam sem sentido,

que fazem seu pensamento 

sonambular. 

Não escute 

a quem diga

que, de fato, 

nessa vida,

conhece a voz de Deus

que não se deixa conhecer.

O Deus da Bíblia é o personagem

do deserto, uma miragem,

fantasia desses homens,

morfologia de uma ideia.

Leia o livro,

releia o livro,

é sempre bom. 

Saiba, todavia,

que o livro que tu lia

não era, como cria,

a voz de Deus

nem poderia jamais ser.


João Pedro


Pessoas estranhas ao portão.

Silêncio nas esquinas esquecidas.

O frio se derrama no coração.

Os olhos se encontram; despedida.


A força desigual se manifesta.

Os sonhos compreendem o seu fim.

O inimigo tem tamanha pressa.

Oh, Deus, por que, por que assim?


O abraço interrompido duramente,

eu juro que tento, mas eu choro.

E quando seu pavor vira silêncio


entendo que o momento é doloroso.

Te amo e como não seria assim?

Te encontro, onde for, adeus, sim.


quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Rimas

 

Eu comecei a quebrar minhas próprias rimas,

já não me agradam suas sonoridades.


Rimar, para mim, tornou-se um pouco cansativo,

repetitivo

e infantil.


Escrevo, agora, com mais liberdade,

como se estivesse falando a um amigo.


Expresso meus sentimentos,

ideais e vontades

como um bêbado

que tropeça nas palavras

que diz.


Se, por acidente, rimo bem,

volto algumas linhas e desfaço,

releio e sinto a falta de compasso

e me dou por satisfeito.


Eu quero desalinho,

distúrbio,

propósito 

e muitos erros.


Satisfeito rima com erros?


De novo:


Eu quero desalinho,

distúrbio,

propósito 

e acidentes.


Quero uma poesia adulta,

forte e bonita;

cheia de palavras dissonantes,

pois o que me importa é a verdade do que digo,

é a qualidade do discurso.


terça-feira, 22 de julho de 2025

Eu

Eu nasci duas vezes;

primeiro como corpo,

depois como sujeito.


Deram-me um nome;

Alberto.

Disseram-me que era homem,

certo!

E logo perguntaram-me

o que eu queria ser.


Alberto começou a procurar

nas pessoas de seu lar

um espelho para se inspirar.


Alberto percebeu-se no ambiente,

um corpo fraco e doente,

uma vontade insistente. 


A mãe, o pai e o irmão

ensinavam a ele 

então

o que era certo 

e o que era errado,

as leis dos homens,

de Deus

e do diabo,

o que era esperado

e o que não. 


Alberto disse para si,

qual si fosse possível, 

que ele era um homem incrível,

um artista, um poeta,

um ceramista,

desenhista,

pessimista,

comunista,

um homem bom.


Parecia que Alberto

sempre tinha existido,

que era então um ser

antigo

de algum passado

percebido

na inconsciência do espírito

procurando renascer.


E que se assim fosse,

logo, logo,

caso morto,

estaria em outro mundo

e viveria tudo de novo,

pois levaria pro outro lado

sua vontade de viver 

mais uma vez.


Logo viu na sala escura

que na verdade,

por mais que dura,

Alberto não havia 

antes de haver.


Que não era,

que não foi,

que não re-foi,

mas começou.


E entendeu em um segundo

que o desejo mais profundo

não muda o que no fundo

é a verdade sobre si.


O eu não é eterno,

o eu não é prévio,

o eu não volta a ser.


Mas é apenas um recurso

nesse mundo obscuro

em que a mente, 

em seu tumulto,

manifesta, por seu turno,

com apenas o intuito

de ser vista, como muitos,

como alguém.


Alberto é passageiro,

veio ao mundo

assim, desnudo

e partirá dele

num segundo

tão ligeiro

e tão sofrido

que é o momento

de morrer.

 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Hind Rajab

 


A jornalista na tv disse que ela era uma mulher,

acho que queria interferir no sentimento 

que a notícia causaria.


Mas ela não era uma mulher ainda,

ela era uma criança,

uma pequena criança

que precisava de ajuda.


É difícil entender o que se passa

nas mentes humanas;

jurava, juro,

que esse tipo de absurdo

não existia mais no mundo.


Ouvir sua voz é sofrimento;

ali, no carro,

rezando para Alá,

seu Deus

em busca de auxílio.


O último segundo,

o grito,

os tiros,

o surto,

o fim de tudo que é moral.


Verdade, é insuportável

e me enlouquece o cinismo

aqui, deste lugar,

onde jornalistas mentem,

distorcem 

e profanam tudo 

com insensatez.


Seu nome agora é uma bandeira

que se agita pelas ruas,

que é cantado, 

que é ouvido,

que é sentido e vira poesia.

É luto,

é luta

e busca por justiça.


As últimas palavras


 Certa vez existiu um homem

cujas palavras eram profundas

e inflamatórias como o fundo do oceano

e as lavas de um vulcão.


O que ele dizia

se tornava poesia,

letra de música,

peça de teatro,

história infantil, enfim,

tudo que se possa

conceber como 

veículo da palavra.


Quando esse homem adoeceu,

já na velhice,

e seu corpo cansado

foi deitado em 

uma cama 

de cetim,

muitas pessoas de seu bairro,

de sua cidade, de seu estado 

e de seu país vieram para

consolá-lo e suportá-lo e,

em seus corações, também

ansiavam pelo momento que 

havia de vir;

o momento em que ele, 

o sábio, 

o poeta, 

o mago, o santo,

o profeta, o grande autor,

o homem que tudo soube e podia ver; esse 

supremo ser, diria suas

últimas palavras.


E em uma noite em que todos

os ventos da terra pararam

e em que as estrelas deixaram de morrer, 

o homem balbuciou, mais uma vez, o seu dizer:


A minha obra foi cumprida 

e a poesia foi pronunciada,

mas, ainda assim, 

muitas e muitas lágrimas 

de tristeza 

serão derramadas 

porque nesta vida

não há nada

que se diga

que seja além

de contribuição

no exercício

da evolução

e construção

do mundo

e na composição

da palavra.