O livro que você leu
não foi escrito por Deus
nem revelado por ele,
antes é uma coleção
de diversas ordens
e categorias de textos
dos cristãos e dos judeus.
A ideia de que o livro
fala por si mesmo
e expressa o próprio
pensamento
do todo poderoso
é falsa,
é falha
e não é capaz
de se suster.
Ali, homens escreveram suas ideias
teológicas,
suas poesias cristológicas,
sua vontade de eternizar.
Ali, os homens registraram o passado,
os seus mitos encantados,
suas formas de história,
suas lendas de poder.
Alí, os homens falaram de milagres
e de coisas impossíveis,
escreveram sobre anjos, demônios,
serpentes que falavam,
pedras que jorravam
e de um morto que voltou.
O poder que ali se encontra
é, na verdade, o da história,
e da psique,
o poder da arte que sem limites,
permite e insiste
e transcende.
Não te veja assim perdido,
não te deixe entorpecer
por pregações e apologismos
que te deixam sem sentido,
que fazem seu pensamento
sonambular.
Não escute
a quem diga
que, de fato,
nessa vida,
conhece a voz de Deus
que não se deixa conhecer.
O Deus da Bíblia é o personagem
do deserto, uma miragem,
fantasia desses homens,
morfologia de uma ideia.
Leia o livro,
releia o livro,
é sempre bom.
Saiba, todavia,
que o livro que tu lia
não era, como cria,
a voz de Deus
nem poderia jamais ser.