Certa vez existiu um homem
cujas palavras eram profundas
e inflamatórias como o fundo do oceano
e as lavas de um vulcão.
O que ele dizia
se tornava poesia,
letra de música,
peça de teatro,
história infantil, enfim,
tudo que se possa
conceber como
veículo da palavra.
Quando esse homem adoeceu,
já na velhice,
e seu corpo cansado
foi deitado em
uma cama
de cetim,
muitas pessoas de seu bairro,
de sua cidade, de seu estado
e de seu país vieram para
consolá-lo e suportá-lo e,
em seus corações, também
ansiavam pelo momento que
havia de vir;
o momento em que ele,
o sábio,
o poeta,
o mago, o santo,
o profeta, o grande autor,
o homem que tudo soube e podia ver; esse
supremo ser, diria suas
últimas palavras.
E em uma noite em que todos
os ventos da terra pararam
e em que as estrelas deixaram de morrer,
o homem balbuciou, mais uma vez, o seu dizer:
— A minha obra foi cumprida
e a poesia foi pronunciada,
mas, ainda assim,
muitas e muitas lágrimas
de tristeza
serão derramadas
porque nesta vida
não há nada
que se diga
que seja além
de contribuição
no exercício
da evolução
e construção
do mundo
e na composição
da palavra.