segunda-feira, 14 de julho de 2025

As últimas palavras


 Certa vez existiu um homem

cujas palavras eram profundas

e inflamatórias como o fundo do oceano

e as lavas de um vulcão.


O que ele dizia

se tornava poesia,

letra de música,

peça de teatro,

história infantil, enfim,

tudo que se possa

conceber como 

veículo da palavra.


Quando esse homem adoeceu,

já na velhice,

e seu corpo cansado

foi deitado em 

uma cama 

de cetim,

muitas pessoas de seu bairro,

de sua cidade, de seu estado 

e de seu país vieram para

consolá-lo e suportá-lo e,

em seus corações, também

ansiavam pelo momento que 

havia de vir;

o momento em que ele, 

o sábio, 

o poeta, 

o mago, o santo,

o profeta, o grande autor,

o homem que tudo soube e podia ver; esse 

supremo ser, diria suas

últimas palavras.


E em uma noite em que todos

os ventos da terra pararam

e em que as estrelas deixaram de morrer, 

o homem balbuciou, mais uma vez, o seu dizer:


A minha obra foi cumprida 

e a poesia foi pronunciada,

mas, ainda assim, 

muitas e muitas lágrimas 

de tristeza 

serão derramadas 

porque nesta vida

não há nada

que se diga

que seja além

de contribuição

no exercício

da evolução

e construção

do mundo

e na composição

da palavra.