domingo, 13 de julho de 2025

O menino




Essa noite, sonhei que estava em Gaza,
em meio aos destroços dos prédios 

e das casas,

andando por ruas escavadas,

sentindo um cheiro forte 

de cadáveres.

Fui tocado, de repente, 

pela mão de um menino pequeno,

de olhos claros e espertos

e de profundo sentimento.

Que fazes aqui sozinho? perguntei aflito. Corre

para teus pais e se protege dos perigos.


Ele sorriu.

Pediu-me que me abaixasse

e sussurrou em meu ouvido:

Eu não tenho lar, nem mãe, nem pai, nem irmã, nem

irmão. Todos morreram aqui, neste pedaço de chão.

Entristeci-me ao ouvir suas palavras

e corri a abraçá-lo e,

enquanto uma lágrima me escapava,

ele sussurrou:

Eu posso voar!

Disse eu: 

Sim, querido! porque não queria magoá-lo.

Ele percebendo o meu ceticismo, abriu os braços

e subiu desaparecendo no ar.

Neste momento, no sonho, eu pude ver o que o menino via:

vi as casas, vi as praias, vi as montanhas, o sol que se punha e as pirâmides do Egito.

Vi árvores e vi rios e vi as primeiras estrelas que pontuavam a noite.

Quando dei por mim, vi-o descer do céu 

aos meus pés 

com um sorriso no rosto.

Por que tu não fugiste se podes voar,

por que não partiu de uma vez por todas para se salvar?

Eu não teria para onde ir - disse-me ele -, Gaza é

onde eu nasci, é meu ninho, meu lugar 

e voar só faz sentido quando é possível voltar.